24 fevereiro, 2009

Dúvidas da nossa língua...

1ª) Ambigüidade?

Leitor quer saber se há ambigüidade na frase “São Paulo empata na Libertadores. Vasco e Grêmio, na Copa do Brasil”.

Leitor tem razão. A frase tem duplo sentido:

1º.) O São Paulo empatou o seu jogo pela Libertadores da América e o Vasco empatou com o Grêmio no seu jogo pela Copa do Brasil (Vasco e Grêmio se enfrentaram pela Copa do Brasil); OU

2º.) O São Paulo empatou o seu jogo pela Libertadores da América e o Vasco e o Grêmio empataram seus jogos pela Copa do Brasil (Vasco empatou com o Fortaleza e Grêmio empatou com o Vitória, por exemplo).


2ª) Pontuação?

Leitor quer saber se está correto o uso de dois-pontos na peça publicitária: “Luís: saia de férias.”

Concordo com o leitor.

Como se trata de um chamamento, “Luís” é vocativo, por isso devemos usar a vírgula: “Luís, saia de férias”.

O uso de dois-pontos seria recomendável se o “Luís” fosse o falante, ou seja, teríamos a transcrição da sua fala. Se o Luís estivesse respondendo a uma pergunta, por exemplo. Vamos imaginar que o chefe perguntasse ao Luís: “Que devo fazer?” E o Luís respondesse: “Saia de férias”.

Observe melhor:

Chefe: “Que devo fazer?”
Luís: “Saia de férias.”


3ª) Crase?

Leitor quer saber se o uso acento da crase está correto na frase “Comida à quilo boa a pampa”.

Concordo com o leitor. São dois erros.

1º) Em comida “a quilo”, não há crase. É impossível haver artigo definido feminino antes de “quilo” (quilograma), pois é uma palavra masculina. “A quilo” é equivalente a “por quilo” (sem artigo), logo sem crase.

2º) Em boa “à pampa”, faltou o acento indicativo da crase. “À pampa” é uma locução feminina. Todos os adjuntos adverbiais femininos (de lugar, de tempo, de modo, de intensidade…) recebem obrigatoriamente o acento indicativo da crase: “sentou-se à mesa”; “bateu à porta”; “saiu à noite”; “erra às vezes”; “vendeu à vista”; “saiu às pressas”; “comeu à beça”; “falou às pampas”.

Assim sendo, o correto é: “Comida a quilo boa à pampa”.


4ª) A nível de?

Nosso leitor tem razão. Há muita gente abusando do “a nível de” em suas entrevistas.

Como já explicamos várias vezes nesta coluna, o uso da expressão “a nível de” é, talvez, o maior modismo lingüístico criado no português do Brasil. É totalmente inútil.

Em meus cursos de redação, costumo dar o seguinte ensinamento: “Toda vez que você sentir vontade de usar o a nível de, pare e deixe a vontade passar. Você pode ter a certeza de que a expressão é desnecessária”.

O maior problema é o uso de “a nível de” em situações em que não há níveis: “O problema só pode ser resolvido a nível de reunião” (reunião não é nível). Bastaria dizer: “O problema só pode ser resolvido na reunião”.

Não faz muito tempo, um craque da bola soltou uma pérola lingüística: “A nível de estar todo mundo vendo, meu melhor jogo foi contra o Uruguai”.

É importante lembrar que, se houver níveis, podemos usar a expressão “em nível de”: “Esse tipo de problema só pode ser resolvido em nível federal”.


5ª) Para mim OU para eu?

Leitor quer saber se a frase “É impossível para mim chegar às 8h” está errada.

Sinto decepcionar o nosso leitor, mas o uso do “para mim” está correto. O problema é a falta das vírgulas. Em ordem direta, teríamos: “Chegar às 8h é impossível para mim”. Em ordem inversa, teríamos: “Para mim, é impossível chegar às 8h” ou “É impossível, para mim, chegar às 8h”.

É diferente de “O chefe disse para eu chegar às 8h”.


6ª) Lhe OU para ele?

Leitor quer saber qual das duas formas é a correta: “Transmita-lhe um abraço” ou “Transmita um abraço para ele”.

As duas formas estão corretas: “Transmita-lhe” ou “transmita para ele”. Poderia ser também “Transmita a ele”.


7ª) Entrega a domicílio OU em domicílio?

A expressão “entrega a domicílio” foi consagrada pelo uso.
Não está errada, mas a “entrega em domicílio” é mais coerente, pois toda entrega é feita EM algum lugar: “entrega em casa ou no escritório ou no quarto”.

fonte: Blog do Professor Sérgio Nogueira

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