Pela maternidade, um feto nasce em qualquer lugar do mundo após
completar nove meses de gestação. O “como” nascer depende das condições
que o local oferece: parteira ou obstetra? A termo ou induzida? Parto
normal ou cesárea? Em casa ou no hospital? De cócoras, deitada ou dentro
da água? Seja como for, o feto vai nascer e isso não se discute. Essa é
a voz da maternidade.
O crescimento e desenvolvimento biológico do filho está pré-determinado
geneticamente, portanto vão acontecer de qualquer maneira, mas a sua
qualidade e quantidade vai depender totalmente da maternagem que lhe for
oferecida.
A maternagem começa a ser desenvolvida desde que o nenê nasce, pela
maneira que tudo chegou a ele. O que chega ao bebê depende muito da
qualidade de maternagem de sua mãe ou substituta.
O bebê é totalmente dependente de alguém que satisfaça suas
necessidades de sono, alimentação, higiene, afeto etc. Sim, de afeto e
especificamente de alguém a quem ele possa se apegar. Bebês sem afeto
entram em depressão e podem morrer antes dos dois anos de idade. Se muda
muito de cuidadoras, sem tempo de formar-se um vínculo de
pertencimento, o bebê não sobrevive e se sobreviver pode sofrer sérias
consequências psiquiátricas, mesmo que fisicamente possa estar bem.
No século 18, na França, havia um costume das mães entregarem seus
bebês às amas mercenárias porque se considerava a amamentação um gesto
de primitivismo animal. As mais ricas contratavam amas mercenárias para
morarem nas suas casas e as mais pobres enviam seus bebês recém-nascidos
às amas mercenárias mais pobres. Muitos bebês (15 a 20%) morriam já no
precário transporte feito em carroças com outros bebês. Estas amas
trabalhavam no campo do dia inteiro e deixavam os bebês fortemente
enfaixados e pendurados para não serem incomodados pelos animais.
Conforme região, até 80% dos bebês morriam até os quatro anos de idade
quando voltavam para casa de suas mães. As mães logo contratavam uma
governanta, depois um preceptor para seguir para o internato de onde
saiam para o casamento. O governo francês percebeu a falta de crianças e
fez uma campanha imensa para mudar a maternagem, desenvolvendo o tipo
de mãe dedicada-devotada, sacrificando a própria existência, que vemos
hoje. Para saber mais leia “Um amor conquistado: o Mito do Amor
Materno”, da Elisabeth Badinter – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
Elisabeth é filósofa e pesquisadora, com muitos livros publicados.
Com a emancipação da mulher, a maternagem ficou prejudicada. Não
somente pela ausência física, mas pela falta de conhecimentos
educativos. Geralmente, a mãe sente-se culpada por ficar tanto tempo
longe do filho e tenta compensar agradando-o em demasia, atrapalhando
assim a educação, pois o filho aprende a ser um amado tirano a comandar a
vida dos adultos à sua volta... Faz mais falta o desconhecimento de
como educar bem do que o tempo de convivência com o filho. O problema
não está na mãe trabalhar fora, mas em não saber administrar esta
ausência na particular e transitória situação de ser mãe de filhos na
primeira infância.
Quanto mais novo e mais incapaz for o filho, mais cuidados ele requer
da mãe. Entretanto, é a mãe que tem que saber que educar não é criar o
filho para si, mas prepará-lo para ter autonomia comportamental,
independência financeira e cidadania ética.
A maior responsabilidade da maternagem é tornar o filho independente dela.
Içami Tiba é psiquiatra e educador. Escreveu "Pais e Educadores de Alta Performance", "Quem Ama, Educa!" e mais 28 livros
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