02 fevereiro, 2009

Carta de um pastor a um apóstolo

Oi, Joãozinho, como você vai? Rapaz, estou com saudades de você, dos tempos do seminário, quando eu, você e a minha esposa nos divertíamos com os outros colegas comendo pastel com garapa, mas também nos consternávamos em ver como éramos pequenos diante da infinita graça e misericórdia do Senhor. A saudade deve ser porque estou de mudança, e, remexendo minhas coisas, achei alguns cadernos daquele tempo, com meus garranchos que, acho, nem eu conseguirei mais ler! Realmente, você tem razão, minha letra era (e continua sendo) horrorosa!

Recentemente encontrei na internet o site da igreja que você pastoreia. Rapaz, que coisa linda! E como vocês cresceram! Que povo animado e alegre, ao menos pelo que vi das fotos!

Mas, Joãozinho, o motivo de lhe escrever vai além da saudade e do apreço que tenho por você. Estou muito preocupado, sabe? Como você mesmo disse, eu sou “muito eu”, ou seja, não consigo esconder algo que sinto. E me sinto no dever de falar com você.

Vi que você agora é chamado de apóstolo. Apóstolo, Joãozinho? APÓSTOLO? Que loucura é essa, amigão? Quem te ordenou? Por qual concílio você passou?

Sempre considerei você um cara equilibrado. Admirava sua fé pentecostal, apesar de não o sê-lo, porque via em você a integridade e a pureza dos santos. Porém, ao ver a foto com a legenda “apóstolo João”, senti que a pureza dos santos foi trocada pelo pragmatismo dos espertos mercenários. Vi que, apesar do sorriso da foto, você não parecia mais o mesmo sujeito alegre e feliz de sempre.

Tivemos a mesma instrução teológica, os mesmos professores, os mesmos colegas, os mesmos conflitos internos... Meu irmão, por que você vendeu seu posto de atalaia do Senhor por um prato de lentilhas pós-modernas e que zombam do cristianismo verdadeiro? Por que, para você, um pastor deve agradar sua platéia, esquecendo-se de quem é? Joãozinho, isso não é chamado ao pastorado, mas sim hipocrisia com uma grossa camada de verniz religioso. O mesmo verniz religioso que tampou a podridão daqueles que se levantaram contra o Senhor, mandando-o para a cruz. Joãozinho, eu sei, você não é um deles! Saia desse meio, antes que chegue a se tornar um deles!

Você sabe que, antes de me converter, eu me bandeava pros lados do esoterismo. Porém, meu amigo, esse “novo mover” em que você diz que anda, além de uma agressão gramatical (é duro um verbo se transformar em substantivo na marra!), nada mais é do que aquele velho misticismo em que eu andava antes de conhecer a Cristo. Se você estivesse sem Cristo, eu até entenderia essa história de anel de autoridade e cobertura espiritual. Porém, com Cristo somos interdependentes, nos submetemos uns aos outros e todos a Cristo apenas. Portanto, considero espúria toda essa nova moda em que você se meteu.

Sei bem que ajuda a crescer, e como ajuda. Porém, lembrando daquele missiólogo que estudamos, Orlando Costas, câncer também cresce, e de maneira desordenada. E você está no meio de uma metástase, mano! Sai logo daí!

Tenho orado muito por você. Saiba que vou orar ainda mais, para que você redescubra a alegria e a dor de ser pastor, e abandone esse neopaganismo apostólico -- onde já se viu um apóstolo, como os atuais, negarem o ensino de Cristo?

Que o Senhor lhe dê graça e lhe abra os olhos.

Obs.: Alguns dados são ficcionais, mas a realidade, por ser tão absurda, supera a ficção.


Rodrigo de Lima Ferreira, casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA, hoje pastoreia a IPI de Rolim de Moura, RO.

Nenhum comentário: