04 janeiro, 2009

Deus sabe

Deus sabe que no momento em que comerem desse fruto os olhos de vocês se abrirão, e ficarão conhecendo o bem e o mal.

E, como se verá, Deus de fato sabe. Ele sabe.

O Profeta Não-autorizado levanta-se no palco e revela aquilo que Deus não ousara confessar: que a transgressão não implica apenas em prejuízo, mas também em aquisição. Estão bem divididos os papéis: Deus enfatiza apenas o prejuízo, a serpente apenas o ganho. E o ser humano, do inconcebível lado de cá da transgressão, posta-se de pé diante de uma ameaça que não sabe avaliar e de uma promessa que não tem como compreender.

É inevitável, na narrativa, que ele tome o terrível passo seguinte.

A narrativa não esconde, e de fato enfatiza, que Deus, embora tivesse construído o universo de forma tão deliberada, deixara na sua obra esta ponta tão formidavelmente solta. Como se verá, Deus de fato sabia que com a transgressão os olhos dos homens seriam abertos e conheceriam o bem e o mal; era esse destino terrível que ele procurava aparentemente evitar. Deus não queria premiar o homem com a morte: queria poupá-lo do horror do autoconhecimento.

Mas em alguns universos determinadas transgressões são inevitáveis, estão entretecidas na própria trama da realidade, e este é o universo de Deus. Esta é a sua história. O que o protagonista semear, isso ele colherá, e as transgressões dos pais perseguirão as escolhas dos filhos.

Paulo Brabo

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