Toda conversão tem sua história.
"Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim” (Gálatas 2.20). É assim que Paulo, resumidamente, descreve o que aconteceu desde o dia em que Cristo se revelou a ele no caminho de Damasco. A cruz de Cristo se estendeu até ele e lá, onde Jesus foi crucificado, ele também foi. Na morte de Cristo, ele também morreu para o seu “velho homem”; e, na ressurreição de nosso Senhor, ele também ressurgiu para uma vida nova, para o “ser nova criatura”. Agora, ele reconhece que o “velho Saulo” já não vive mais, mas é Cristo que vive pelo poder do Espírito Santo nele. Trata-se de uma nova vida, efetuada agora pela fé em Cristo e naquilo que Cristo fez por ele. Isto é o que chamamos de conversão.
A conversão de Paulo tem uma história. Toda conversão, aliás, tem sua história. Ela envolve o que ele era antes, o que aconteceu e aquilo em que se tornou. Antes, Paulo era um judeu zeloso, inteligente, responsável que, segundo ele mesmo, encontrava-se acima da média dos seus colegas e buscava guardar as tradições dos seus antepassados. Paulo era um homem íntegro, coerente com tudo aquilo que cria, a ponto de se lançar numa perseguição aos cristãos por considerá-los uma ameaça à pureza da religião judaica, da qual era fiel defensor. Foi assim que ele viveu durante muitos anos.
Um dia, Saulo foi para Damasco, levando consigo uma autorização dos seus superiores dando-lhe poderes para prender ou fazer o que fosse necessário, dentro do que a lei permitia, com os cristãos daquela cidade. Durante a viagem, por volta do meio-dia, uma luz brilhou com uma intensidade tão grande que jogou ele e seus colegas no chão. Ali, então, ouviu uma voz que lhe disse: “Saulo, Saulo, porque você está me perseguindo? Resistir ao aguilhão só lhe trará dor!” Ele respondeu: “Quem és tu, Senhor?” Então ouviu a resposta que dizia: “Sou Jesus, a quem você está perseguindo”. Naquele momento em que Cristo se revelou, Paulo reconheceu que tudo aquilo que pensava ser o certo, que toda a sua religiosidade que fez dele um homem tão íntegro e responsável, na verdade estava levando-o para um caminho completamente oposto ao de Deus. Ele que pensava ser um grande amigo do Senhor, fazendo o melhor que podia para preservar a pureza daquilo que cria ser sua vontade; de uma hora para outra, vê-se como inimigo de Deus ao ouvir de Cristo: “Sou Jesus, a quem você está perseguindo”. Este encontro transformou radicalmente, e para sempre, a vida de Paulo. Enquanto se encontrava ainda no chão, Jesus continuou dizendo a ele: “Agora, levante-se, fique em pé. Eu lhe apareci para constituí-lo servo e testemunha do que você viu a meu respeito e do que lhe mostrarei”. Paulo levantou-se para iniciar uma nova jornada, uma nova vida, uma nova missão. Depois de passar três anos na Arábia, ele volta para Jerusalém e inicia seu longo ministério, proclamando as boas novas do Evangelho de Cristo ao mundo. Paulo tinha uma vida como todos nós. Era um homem íntegro, zeloso e coerente com suas convicções, como alguns de nós. No entanto, quando Cristo se revelou a ele como Filho de Deus, Salvador, ele se entregou completamente. As coisas velhas ficaram para trás; suas velhas ambições foram abandonadas; seus velhos princípios, valores e conceitos, também deixados para trás. Não era mais o mundo quem determinava o que era o certo ou o errado – nem mesmo sua consciência tinha a última palavra. O que lhe importava a partir de então era Cristo, sua palavra, sua cruz, sua ressurreição, sua vontade.
Temos perdido este conceito tão central e fundamental da conversão. O Cristo que queremos servir não é mais aquele que se revela, mas um que nós criamos a partir daquilo que nos interessa. Não somos mais convertidos a ele, mas é ele quem se converte a nós. A vida cristã não significa mais o “ser nova criatura”, mas permanecer sendo a mesma criatura, apenas com um leve toque de verniz religioso. Não queremos deixar nada para trás; não pretendemos nos despir do “velho homem” com suas manias, vícios, pecados e hábitos imorais; não queremos abrir mão das ambições mesquinhas; muito menos, das vaidades infantis. Não é mais a voz de fora que fala conosco, mas uma voz de dentro, uma voz que nasce do medo, das inseguranças e dos desejos confusos e neuróticos que definem a natureza da fé.
Precisamos recuperar o significado de dizer: “Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”. Precisamos voltar a viver pela fé no Filho de Deus, e não pelos impulsos da nossa natureza caída ou atraídos pelo fascínio de uma cultura que nega a cruz de Cristo.
Precisamos reconhecer mais uma vez que o chamado de Cristo envolve a renúncia e a radicalidade de um discipulado no qual o Filho de Deus permenece sendo o Senhor da Igreja. Num cenário de esvaziamento ético e frouxidão moral, os cristãos são chamados mais uma vez a dar testemunho de esperança através de uma vida comprometida com os propósitos de Deus para sua criação. A sobrevivência da humanidade dependerá da integridade daqueles que sustentam o testemunho da graça de Deus.
Ricardo Barbosa de Souza
2 comentários:
QUE DEUS CONTINUE TE ABENÇOANDO.
QUE DEUS CONTINUE TE ABENÇOANDO
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