15 junho, 2009

Inquietações, inquietações

Quem são homens e mulheres para que te lembre deles? Onde te escondeste, ó Senhor, que não invades logo esse teatro de horrores? Por que não terminas com o ato macabro que se arrasta além do tempo? “Não se te dá que morramos”? O preço que cobras por nos teres criado imperfeitos não é alto demais? Existe outro mundo possível? Por que as antecipações do Reino foram imprecisas e, rapidamente, se esfarelaram em instituições adoecidas pela fome de poder?

Por que as forças do mal se reproduzem como amebas? Forçados a viver com paradoxos, os humanos sofrem debaixo da burocracia de um Estado frio; satanicamente manipulado por lógicas nobres. Mas existe uma lógica que exige o choro de criança, o luto de mãe pobre e o abandono de idoso? Tal coerência já deveria ter sido soterrada há milênios. As masmorras, os hospícios, os patíbulos, são monumentos que escarram na cara da humanidade.

Tateio em busca de respostas. Entorpeço a alma diluindo a verdade. Inebriado por quimeras, sigo iludido com a grandeza humana. Com a mão direita canibalizamos, com a esquerda, escrevemos poesia. Fazemos guerra para trazer paz. Vaidosos, nos consideramos um pouco menores que os anjos. Não vemos nossa face desfigurada; somos monstros de iniquidade.

O caminho não desemboca na estrada. O rio não alcança o oceano. A estrela não explode o universo. O tempo não fraciona a eternidade. A pergunta não esgota a verdade. O afeto não redime o ódio. A nostalgia não recupera o passado. A clemência não explica o holocausto. A ciência não alcança o inconsciente. Não há século que alivie o mal de cada dia.

Soli Deo Gloria

Ricardo Gondim

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