06 abril, 2009

O efeito imediato

O efeito imediato, e o único efeito inerente à transgressão não é a culpa, o arrependimento ou o castigo (todos esses amarrados às intermediações da serpente e não à transgressão em si), mas a autoconsciência. A coisa que o homem descobre sem qualquer intervalo deste lado da transgressão é que tornou-se igual a Deus no que Deus transgrediu e criou o homem – isto é, viu refletida no outro a própria glória, isto é, viu que estava nu, isto é, conheceu o bem e o mal, isto é, conheceu as complicações de estar diante do outro em glória.

Conhecer a própria nudez é, evidentemente, conhecer a própria glória. A transgressão do homem reflete a trangressão divina original porque, como Deus, a primeira reação do homem diante do conhecimento da sua glória é ocultá-la. “Costuraram folhas de figueira e fizeram para si aventais”, mas antes Deus já havia escondido sua glória atrás da Árvore que homem e mulher não deveriam ultrapassar. Para que não passe despercebida, a narrativa faz eco pontual a essa revelação: quando sentiram a aproximação de Deus, que vinha visitá-los na fresca da tarde, homem e a mulher “esconderam” sua nudez (isto é sua glória) “da presença de Deus” (isto é, dos olhos dele) “entre as árvores do jardim” (verso 8). Essa poesia é uma precisa inversão ou reflexo do que Deus havia feito: camuflado do homem as complicações da sua glória atrás de uma árvore.

Paulo Brabo

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