24 janeiro, 2009

O Bem

O bem sabe esperar. Paciente, aguarda que a serralheria se esvazie dos homens que forjam grilhões.

O bem é delicado. Frágil, precisa de proteção. Simples, não cobra cuidados.

O bem vive na alça mais escondida da alma, na alcova do afeto. Nasce na medula do espírito. Para sobreviver, não precisa das estruturas do poder. Dissolve-se em água salgada. Discreto, não carece de luz, como as mariposas.

O bem corteja. Atrai por suas insinuações. Seduz nas mãos delicadas da fisioterapeuta que exercita o ancião, no rosto da assistente social que pesa a criança subnutrida, no esforço do volutário que distribui cobertor para o exilado da enchente.

O bem desce no conta gotas do sangue doado. Sua verdade pode ser atestada pelo empenho do médico norueguês que mora na Faixa de Gaza. É visto na disposição do jovem que marcha pela paz, mesmo quando o frio congelava a ponta do nariz e bombas de gás lacrimogênio o fazem prantear.

O bem escapou no pelourinho e há de resistir o perene massacre dos poderosos. Quando as cortinas do ódio o encobrem, meninos e meninas o encarnam. Os poetas enaltecem o bem. Celebrado nas catedrais e experimentado nos bordéis, é ao mesmo tempo humano e divino, angelical e terreno.

Soli Deo Gloria

Ricardo Gondim

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