08 outubro, 2008

O dever solitário.

Nasci com um destino: a meta de me assumir e forjar uma identidade. Tenho de ser eu mesmo. Portanto, vim ao mundo condenado à solidão existencial. Jamais conseguirei ser outro alguém. Não há como fugir de ser eu mesmo. Nunca encontrarei um semelhante idêntico. Sem alternativa, só posso construir a mim mesmo. Andarei sempre sozinho a talhar um carimbo existencial. Minha sina é ser exclusivo, irrepetível.

Meu inferno foi querer vestir armaduras alheias. Devo moldar-me a uma imagem original. Meu céu deixou de ser um lugar, para transformar-se em uma trilha por onde aprendo a arte de humanizar-me. Nessa oficina de vida, reconheço os limites do meu medo, as excentricidades da minha ousadia, os enganos do meu narcisismo e a fraqueza da minha soberba; celebro também a riqueza da minha sensibilidade, a fertilidade do meu tirocínio e a profunidade da minha poesia.

Nasci com o dever intransferível e imediato de edificar uma Ricardice íntegra; não perfeita, só honesta - consciente de que sempre encontrarei pessoas mais inteligentes, mais bonitas, mais ricas, mais famosas, mais poderosas, mais competentes e, à medida que envelheço, mais jovens, que eu.

Meus parâmetros para o sucesso deixaram de ser comparativos. Reconheço que não possuo cacife para me comparar com ninguém. Minha meta sou eu. Quero ser o melhor de mim mesmo. Há pouco tempo aprendi a me medir com única trena que possuo: meus valores.

Permito que apenas o meu coração me cobre. Só ele pode exigir bondade, benignidade, mansidão, estima e delicadeza. Só a minha consciência pode julgar as motivações escondidas em cada escolha que faço. Assumo o compromisso de permanecer um espectador exigente de meu espetáculo. Serei o primeiro ouvinte de cada discurso meu.

Ricardo Gondim

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