O mundo foi surpreendido, nesta segunda-feira, com a rejeição, por parte da Câmara dos Deputados dos Estados, do pacote econômico de 700 bilhões de dólares proposto pelo governo Bush para enfrentar a crise que está abalando o mercado financeiro global. A surpresa foi grande porque no domingo à noite tinha sido anunciado ao mundo que as lideranças do partido democrata e do republicano tinham chegado a um acordo junto com os representantes do poder executivo para aprovar o projeto. Com a rejeição, o mercado financeiro mundial entrou em pânico, e a bolsa de Nova Iorque teve a maior baixa da sua histórica, causando, só na segunda-feira, uma perda em torno de 1,2 trilhão de dólares no valor de mercado das ações.
Ninguém tinha certeza de que esse pacote colocaria um fim à crise, mas todos estavam de acordo que era necessário fazer algo nessa direção para evitar um mal pior. Se há um consenso entre os economistas, é o de que ninguém sabe o tamanho e as causas dessa crise, que é a maior desde a grande depressão de 1929. Esse desconhecimento é também um retro-alimentador da crise, pois em estado de insegurança e de desconfiança mútua todas as instituições financeiras se retraem e não emprestam dinheiro para ninguém. Com isso, o fluxo de dinheiro - o óleo que possibilita o funcionamento das engrenagens do capitalismo - cessa, as empresas produtivas e financeiras começam a ter sérios problemas de fluxo de caixa, os títulos financeiros são desvalorizados e, com isso, o patrimônio das instituições financeiras, que garantia os seus débitos, diminui criando desequilíbrios financeiros da instituição e do próprio sistema. Tudo isso agrava ainda mais a crise financeira.
Se a confiança no sistema financeiro não for restaurada urgentemente e o crédito circular novamente, a crise pode arrastar muito mais empresas, do setor financeiro e produtivo, podendo levar o mundo a uma grande depressão econômica. Isso afetaria também milhões de pessoas que tem dinheiro investido ou depositado nessas instituições financeiras (bancos, cadernetas de poupança, fundos de investimento, etc.) ou quem tem planos de aposentadoria (que geralmente tem uma parte significativa dos seus fundos investida no mercado financeiro), sem falar no desemprego.
Se a situação é tão grave, por que a maioria da câmara rejeitou o plano? Por parte dos republicanos (dois terços votaram contra), o principal argumento foi: o pacote de intervenção do Estado na economia é um passo em direção ao socialismo, e é preferível passar dificuldades econômicas, até mesmo a fome, do que abandonar o princípio da liberdade do mercado! Isto é, a defesa absoluta da ideologia do "mercado livre" das intervenções do Estado - o que pode ser considerado uma forma de fundamentalismo econômico - foi uma das causas da crise e da própria rejeição do pacote. Fundamentalistas religiosos ou econômicos, de direita ou de esquerda, são coerentes em uma coisa: não importa a realidade da vida ou as condições históricas objetivas, é preciso reafirmar a todo custo a "verdade" em que acreditam ou pelo qual lutam.
Por parte dos democratas que votaram não, o principal argumento foi: o dinheiro seria usado para ajudar os ricos banqueiros, ao invés de ser usado para beneficiar o povo. Porém, quando a crise é sistêmica, como a atual, não se pode isolar uma parte do resto do sistema. Isto é, a recusa em ajudar salvar o sistema financeiro, em nome de defender o interesse do povo, afeta também o povo, que tem seu dinheiro depositado ou investido nos bancos, que tem suas poupanças ou fundos de aposentadoria investidos nesse sistema, e/ou que tem os seus empregos em empresas que depende do fluxo de crédito do sistema financeiro. A visão que contrapõe os ricos X pobres funciona enquanto a crise não afeta o sistema como um todo. Mas quando a crise é sistêmica, é preciso assumir uma visão estratégica sistêmica para ação.
Ninguém sabe como e quando essa crise vai ser superada. Quase todos os economistas estão de acordo que essa crise não será a última e que o sistema financeiro mundial será modificado após a atual crise. Outra quase certeza: essa não é a última crise do capitalismo, isto é, o sistema capitalista global terá fôlego para se refazer dessa crise. O que nós podemos aprender dessa crise? Pelo menos duas coisas: a) fundamentalismo econômico, político ou religioso, de direita ou esquerda, pode satisfazer os egos dos seus "profetas’ e ter muitos seguidores, mas a realidade cobrará o seu preço; b) grandes crises e grandes processos de transformação social precisam ser entendidos em termos sistêmicos, pois as visões que focam nas contradições dualistas, como ricos X pobres, não dão conta dessas situações.
Jung Mo Sung
Ninguém tinha certeza de que esse pacote colocaria um fim à crise, mas todos estavam de acordo que era necessário fazer algo nessa direção para evitar um mal pior. Se há um consenso entre os economistas, é o de que ninguém sabe o tamanho e as causas dessa crise, que é a maior desde a grande depressão de 1929. Esse desconhecimento é também um retro-alimentador da crise, pois em estado de insegurança e de desconfiança mútua todas as instituições financeiras se retraem e não emprestam dinheiro para ninguém. Com isso, o fluxo de dinheiro - o óleo que possibilita o funcionamento das engrenagens do capitalismo - cessa, as empresas produtivas e financeiras começam a ter sérios problemas de fluxo de caixa, os títulos financeiros são desvalorizados e, com isso, o patrimônio das instituições financeiras, que garantia os seus débitos, diminui criando desequilíbrios financeiros da instituição e do próprio sistema. Tudo isso agrava ainda mais a crise financeira.
Se a confiança no sistema financeiro não for restaurada urgentemente e o crédito circular novamente, a crise pode arrastar muito mais empresas, do setor financeiro e produtivo, podendo levar o mundo a uma grande depressão econômica. Isso afetaria também milhões de pessoas que tem dinheiro investido ou depositado nessas instituições financeiras (bancos, cadernetas de poupança, fundos de investimento, etc.) ou quem tem planos de aposentadoria (que geralmente tem uma parte significativa dos seus fundos investida no mercado financeiro), sem falar no desemprego.
Se a situação é tão grave, por que a maioria da câmara rejeitou o plano? Por parte dos republicanos (dois terços votaram contra), o principal argumento foi: o pacote de intervenção do Estado na economia é um passo em direção ao socialismo, e é preferível passar dificuldades econômicas, até mesmo a fome, do que abandonar o princípio da liberdade do mercado! Isto é, a defesa absoluta da ideologia do "mercado livre" das intervenções do Estado - o que pode ser considerado uma forma de fundamentalismo econômico - foi uma das causas da crise e da própria rejeição do pacote. Fundamentalistas religiosos ou econômicos, de direita ou de esquerda, são coerentes em uma coisa: não importa a realidade da vida ou as condições históricas objetivas, é preciso reafirmar a todo custo a "verdade" em que acreditam ou pelo qual lutam.
Por parte dos democratas que votaram não, o principal argumento foi: o dinheiro seria usado para ajudar os ricos banqueiros, ao invés de ser usado para beneficiar o povo. Porém, quando a crise é sistêmica, como a atual, não se pode isolar uma parte do resto do sistema. Isto é, a recusa em ajudar salvar o sistema financeiro, em nome de defender o interesse do povo, afeta também o povo, que tem seu dinheiro depositado ou investido nos bancos, que tem suas poupanças ou fundos de aposentadoria investidos nesse sistema, e/ou que tem os seus empregos em empresas que depende do fluxo de crédito do sistema financeiro. A visão que contrapõe os ricos X pobres funciona enquanto a crise não afeta o sistema como um todo. Mas quando a crise é sistêmica, é preciso assumir uma visão estratégica sistêmica para ação.
Ninguém sabe como e quando essa crise vai ser superada. Quase todos os economistas estão de acordo que essa crise não será a última e que o sistema financeiro mundial será modificado após a atual crise. Outra quase certeza: essa não é a última crise do capitalismo, isto é, o sistema capitalista global terá fôlego para se refazer dessa crise. O que nós podemos aprender dessa crise? Pelo menos duas coisas: a) fundamentalismo econômico, político ou religioso, de direita ou esquerda, pode satisfazer os egos dos seus "profetas’ e ter muitos seguidores, mas a realidade cobrará o seu preço; b) grandes crises e grandes processos de transformação social precisam ser entendidos em termos sistêmicos, pois as visões que focam nas contradições dualistas, como ricos X pobres, não dão conta dessas situações.
Jung Mo Sung
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