Adoro futebol. Sou quase que um jogador frustrado. De vez em quando arrisco minha reputação -- e a do meu time! -- no gol. Levando em conta a barriga avantajada até que me viro bem. Pensando nas paixões que desperta e nas asas à imaginação que o seu encanto em mim concede, decidi fazer alguns paralelos entre uma partida de futebol e a vida.
Aos quarenta e poucos, me sinto cronologicamente no final do primeiro tempo de jogo. O placar? Bem, joguei com todo o empenho, fiz alguns belos gols. O score é bem elástico, com vários tentos assinalados por ambos os times. Tomei alguns gols antológicos, daqueles que reconheço como obras-primas mesmo tendo sido feitos contra mim.
Estou prestes a ir para o intervalo, quando irei ouvir do treinador comentários sobre os erros de marcação, as bolas que tomei pelas costas, as distrações nas jogadas de bola parada, as bolas perdidas no meio-campo e que propiciaram contra-ataques fulminantes. Ao fim da mini-preleção, antevejo suas palavras de encorajamento, semelhantes às que grita (junto com um monte de palavrões) à beira do campo, sem, contudo, ultrapassar os limites da área técnica e muito menos sem invadir a cancha, mesmo em casos extremos, como os de uma expulsão injusta. Afinal, a mim cabe somente jogar o jogo.
Expectativas para o segundo tempo? Apenas a vontade de lutar sem entrega, a despeito do placar final. O grande prazer, a enorme satisfação é de estar jogando, de contemplar a torcida ensandecida, roçar os pés com todo o carinho sobre os muitos gomos da bola, imaginar as mais belas e inesquecíveis jogadas...
Prorrogação? Talvez, mas se houver será só canseira e enfado.
Ao apito final, quando se fecharem as cortinas do grande espetáculo, somente uma certeza: seja qual for o resultado último, não haverá cobrança de penalidades.
• Jorge Camargo, mestre em ciências da religião, é intérprete, compositor, músico, poeta e tradutor.
Aos quarenta e poucos, me sinto cronologicamente no final do primeiro tempo de jogo. O placar? Bem, joguei com todo o empenho, fiz alguns belos gols. O score é bem elástico, com vários tentos assinalados por ambos os times. Tomei alguns gols antológicos, daqueles que reconheço como obras-primas mesmo tendo sido feitos contra mim.
Estou prestes a ir para o intervalo, quando irei ouvir do treinador comentários sobre os erros de marcação, as bolas que tomei pelas costas, as distrações nas jogadas de bola parada, as bolas perdidas no meio-campo e que propiciaram contra-ataques fulminantes. Ao fim da mini-preleção, antevejo suas palavras de encorajamento, semelhantes às que grita (junto com um monte de palavrões) à beira do campo, sem, contudo, ultrapassar os limites da área técnica e muito menos sem invadir a cancha, mesmo em casos extremos, como os de uma expulsão injusta. Afinal, a mim cabe somente jogar o jogo.
Expectativas para o segundo tempo? Apenas a vontade de lutar sem entrega, a despeito do placar final. O grande prazer, a enorme satisfação é de estar jogando, de contemplar a torcida ensandecida, roçar os pés com todo o carinho sobre os muitos gomos da bola, imaginar as mais belas e inesquecíveis jogadas...
Prorrogação? Talvez, mas se houver será só canseira e enfado.
Ao apito final, quando se fecharem as cortinas do grande espetáculo, somente uma certeza: seja qual for o resultado último, não haverá cobrança de penalidades.
• Jorge Camargo, mestre em ciências da religião, é intérprete, compositor, músico, poeta e tradutor.
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