19 julho, 2008

É curioso notar

É curioso notar que o homem que não teve infância, ao mesmo tempo forte e viril como um adulto e nu e vulnerável como um recém-nascido, é um referente adequado da nossa condição mesmo antes de dar o primeiro passo inequívoco em direção ao seu conflito.

Na contradição do homem que nasceu maduro tornamo-nos capazes de enxergar o papel da infância na nossa própria história; podemos intuir, se ainda não o fizemos, que a criança que fomos moldou em grande parte a pessoa que somos. Diante dos nossos próprios conflitos agimos segundo a instrução ou a criatividade dessa criança primordial, e o primeiro homem carece dessa referência.

Deve ficar claro que a geração fora do tempo de Adão e seu fracasso em gerenciar a abundância estão intimamente ligados; ambos são, ainda, emblemas de aspectos fundamentais da nossa própria condição. Neste sentido, a narrativa explica que descendemos todos de alguém que nunca chegou a se resolver emocionalmente.

Nós mesmos lutamos incessantemente para nos ajustarmos à circunstância que representou para o primeiro homem um problema. Para todos a idade adulta – o rótulo de adulto – chega antes que nos sintamos inteiramente preparados para ele. Sem a reconciliação da infância permanecerá para sempre presente impensável e ameaça desconcertante.

Essa lição da figura de Adão será de todas a mais evidente: quem não é criança jamais chegará à maturidade. Não é de admirar que Jesus dirá que para entrar no Reino é preciso ser como criança; o primeiro homem teve de demonstrar que ser homem não basta.

Paulo Brabo

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