07 maio, 2008

Cada um no meu lugar

Texto dedicado pelo editor do Jornal dos Amigos a todas as mulheres que trabalharam em 1978 nas unidades comerciais Ipanema e Copacabana da Telerj, Rio de Janeiro, ocasião em que foi gerente

Há um momento, no auge do desentendimento, em que o máximo de raiva está a um milímetro do máximo de amor.


Há algo que permanece em tudo que se separa. Esse algo é o que dói, mesmo quando a separação é, ou foi, o melhor caminho.

Há um projeto sempre irrealizado em toda a relação que se realiza. Uma necessidade nova sempre se coloca a cada satisfação da anterior.

Entre pessoas que se amam, há verdades e sentimentos que, se aparecem quando elas estão juntas, separam; e se aparecem quando elas estão separadas, machucam, dão saudade, vontade de juntar.

Gostar não é apenas durante. É, sobretudo, depois.

Amar é apesar, aquém e além da pessoa amada.

Dilema do homem. Na vigência do casamento ele se sente preso e atado. Quer, quer a separação. Não agüenta mais as limitações da vida comum. Aí pinta a separação e ele, mais do que a mulher, entra em pânico.

O homem está menos preparado para a liberdade da mulher do que ela.

Os verdadeiros apetites sensuais sempre se manifestam com mais clareza quando a inviabilidade, a dificuldade ou impossibilidade da relação se impõe.

Casais separados conseguem certas intensidades amorosas impossíveis na vigência do matrimônio.

Certos graus de amor só são perceptíveis a partir da impossibilidade de se exercerem ou da ameaça de não poderem jamais vir à tona.

O caminho da liberdade pessoal, da descoberta das próprias potencialidades, muitas vezes só é possível a partir de um sofrimento de amor.

A vigência de neuroses não complementares impede a possibilidade de melhora e crescimento interior de ambos.

Um neurótico nunca vai para o brejo sozinho.

Uma separação dolorosa às vezes acaba por se transformar na melhor maneira de ensinar a pessoa a ela mesma.

Quase sempre desprezamos a chance do novo em nossas vidas. Atados que estamos a uma necessidade de eco e repetição de tudo o que nos traz(ia) segurança.

Em convivência e em amor, o que perdura através do tempo, mesmo que à custa de muita dificuldade e de um precário equilíbrio, revela a existência de uma relação profunda. Tempo nem sempre é acomodação. Muitas vezes é sinal de uma sabedoria intuitiva que autoriza a permanecer com a ligação mesmo quando ela pareça insatisfatória e incompleta. O que consegue vencer o tempo consegue vencer, também, impulsos passageiros com sabor de emoção e novidade.

O que não acaba apesar da convivência, abençoado está.

Em amor, se é preciso explicar, então já não se deu o entendimento profundo, a adivinhação da verdadeira necessidade do outro.

O que se precisa explicar nunca será explicado.

Quem não te adivinha não te merece.

Rende-te à natureza de quem amas e esta começará a te obedecer.

O que perdura numa relação que se fragmenta é sempre o que de verdadeiro havia nela.

Uma impossibilidade bem vivida é mais rica que uma possibilidade mal vivida.

O que volta depois de ter passado é porque nunca deixou de existir.

Por Artur da Távola, de seu livro "Cada um no meu lugar"

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