Só a beleza interior é capaz de vencer a corrida contra o tempo.
Foi-se o tempo em que a cirurgia plástica estética era um privilégio de poucas pessoas endinheiradas. Hoje em dia, submeter-se a uma intervenção do gênero para corrigir imperfeições físicas ou simplesmente fazer concessões à vaidade é coisa cada vez mais comum. E o uso desse tipo de recurso tem ajudado muita gente a obter uma aparência mais bonita, com os conseqüentes ganhos na auto-estima e progressos no convívio social, profissional e até familiar do indivíduo. Temos ainda as inúmeras aplicações da cirurgia plástica corretiva ou preventiva, que em muitos casos é indispensável à manutenção ou recuperação da saúde, sobretudo no caso de acidentes com seqüelas.
A verdade é que há muitas razões para se cuidar da beleza física. Uma delas é que a vida humana acontece através do corpo. Além disso, as Sagradas Escrituras afirmam que esse corpo é o templo do Santo Espírito. Portanto, nada melhor do que cuidar bem de um patrimônio tão precioso, que acima de tudo é a morada de Deus. Por outro lado, a cirurgia plástica tem sido vista como uma espécie de recurso capaz de resolver problemas externos e internos. Na busca desenfreada pelo corpo perfeito, muitos exageros têm sido cometidos, na ilusão de que uma mudança externa possa resolver todos os possíveis problemas, inclusive os emocionais e existenciais tão comuns a nós, seres humanos.
A preocupação começa quando se observa os abusos praticados tanto pelas pessoas que se submetem a estas intervenções, quanto por alguns profissionais de saúde que as executam. Aquelas, porque muitas vezes deixam de lado tantas outras coisas fundamentais para a própria vida; e estes porque, interessados no ganho financeiro – e muitas dessas cirurgias custam dezenas de milhares de reais –, fazem de sua prática um verdadeiro comércio da estética. Em muitos consultórios e clínicas, não é mais o médico que aponta a necessidade e importância da cirurgia, deixando a critério do paciente a opção de realizá-la ou não – é o cliente que vem e determina, numa boa parte dos casos, o que o cirurgião deve fazer. Os resultados, por vezes, são modificações tão grandes na fisionomia que até as pessoas mais próximas têm dificuldade em reconhecer o paciente depois.
Essa busca obsessiva é um indicador de que a mudança mais necessária deve ocorrer no interior de cada um. Jocelyne Rosemberg, renomada psiquiatra, aponta a preo¬cupação insistente com algum possível defeito do corpo, o chamado transtorno dismórfico corporal (TDC), como causa de sofrimento que pode acontecer em qualquer idade. Se o TDC for reforçado por uma percepção distorcida da imagem corporal, isto é, quando essa imagem não corresponde àquela refletida no espelho, pode ocorrer uma busca por modificações externas – na verdade, apenas uma tentativa de encontrar alívio para o desconforto angustiante de não se ver como realmente se é. Neste caso, o “corta e recorta” dos bisturis estéticos será apenas o ponto de partida de uma procura sem fim por mais e mais mudanças de aparência.
Outra causa da busca frenética pelas cirurgias plásticas é a dificuldade em aceitar o avanço da idade. Envelhecer é um processo por vezes dolorido. Para aproveitar as aquisições que só o passar dos anos podem dar, é preciso despedir-se do vigor e da beleza natural da juventude e assumir as limitações físicas da velhice. Para muitos, tanto homens como mulheres, isso é desesperador. Todavia, as modificações artificiais do corpo não só mascaram o sofrimento do processo de envelhecimento como também podem alimentar a ilusão de que os anos ficaram estagnados.
Só a beleza interior é capaz de vencer a corrida contra o tempo. O apóstolo Pedro tinha consciência disto. Quando escreveu uma carta a um grupo de cristãos, destinou parte dela às mulheres, alertando-as de que o foco da beleza deveria “ser a interior, que não perece, beleza demonstrada num espírito dócil e tranqüilo, que é de grande valor para Deus” (1 Pedro 3.3-4). Podemos fazer uso de todos os recursos possíveis para a preservação e beleza do corpo, mas não podemos esquecer que as leis da vida são mais fortes; os anos passam, por mais que disfarcemos seus efeitos. As plásticas podem eliminar as rugas, mas não diminuem a idade.
Salomão, um rei que ficou conhecido pela sua sabedoria, viveu regiamente e relacionou-se com muitas mulheres. Tanta experiência fê-lo concluir que a beleza era enganosa e a formosura, passageira. “Mas a mulher que teme ao Senhor será elogiada”, ressalvou (Provérbios 31.30). O temor ao Senhor só será legitimado se resultar numa maturidade perceptível nos relacionamentos pessoais. O crescimento espiritual genuíno manifesta uma beleza que será reconhecida por aqueles que vivem à nossa volta. Mas cultivar a beleza interna implica conhecer as próprias sombras e ter disposição para suportar muitas vezes a vergonha e a dor de descobrir que não somos aquilo que aparentamos.
É preciso encarar a realidade de que construímos muitos disfarces no anseio de sermos aceitos e amados. Na busca da beleza interior, precisamos desconstruir nossas fachadas, uma a uma – e nesses desmanches, perdemos a falsa identidade e experimentamos a sensação desesperadora da perda de nós mesmos. Viver com a imagem verdadeira que se inicia ainda é estranho e desconfortável para muitos de nós; mas adaptar-se a ela é um caminhar lento e por muitas vezes solitário, porque os amigos, conhecidos e até parentes que gostavam só da aparência que os agradava também se vão. Sim, este processo é um tipo de cirurgia, e sem anestesia. Porém, os resultados são muito mais que apenas estéticos – eles são consolidados em nosso ser e ficam cada vez mais belos, atraindo para junto de nós aqueles que apreciam e se deleitam com a beleza de caráter, que é perene e sobrepuja a mera aparência.
Esther Carrenho
A verdade é que há muitas razões para se cuidar da beleza física. Uma delas é que a vida humana acontece através do corpo. Além disso, as Sagradas Escrituras afirmam que esse corpo é o templo do Santo Espírito. Portanto, nada melhor do que cuidar bem de um patrimônio tão precioso, que acima de tudo é a morada de Deus. Por outro lado, a cirurgia plástica tem sido vista como uma espécie de recurso capaz de resolver problemas externos e internos. Na busca desenfreada pelo corpo perfeito, muitos exageros têm sido cometidos, na ilusão de que uma mudança externa possa resolver todos os possíveis problemas, inclusive os emocionais e existenciais tão comuns a nós, seres humanos.
A preocupação começa quando se observa os abusos praticados tanto pelas pessoas que se submetem a estas intervenções, quanto por alguns profissionais de saúde que as executam. Aquelas, porque muitas vezes deixam de lado tantas outras coisas fundamentais para a própria vida; e estes porque, interessados no ganho financeiro – e muitas dessas cirurgias custam dezenas de milhares de reais –, fazem de sua prática um verdadeiro comércio da estética. Em muitos consultórios e clínicas, não é mais o médico que aponta a necessidade e importância da cirurgia, deixando a critério do paciente a opção de realizá-la ou não – é o cliente que vem e determina, numa boa parte dos casos, o que o cirurgião deve fazer. Os resultados, por vezes, são modificações tão grandes na fisionomia que até as pessoas mais próximas têm dificuldade em reconhecer o paciente depois.
Essa busca obsessiva é um indicador de que a mudança mais necessária deve ocorrer no interior de cada um. Jocelyne Rosemberg, renomada psiquiatra, aponta a preo¬cupação insistente com algum possível defeito do corpo, o chamado transtorno dismórfico corporal (TDC), como causa de sofrimento que pode acontecer em qualquer idade. Se o TDC for reforçado por uma percepção distorcida da imagem corporal, isto é, quando essa imagem não corresponde àquela refletida no espelho, pode ocorrer uma busca por modificações externas – na verdade, apenas uma tentativa de encontrar alívio para o desconforto angustiante de não se ver como realmente se é. Neste caso, o “corta e recorta” dos bisturis estéticos será apenas o ponto de partida de uma procura sem fim por mais e mais mudanças de aparência.
Outra causa da busca frenética pelas cirurgias plásticas é a dificuldade em aceitar o avanço da idade. Envelhecer é um processo por vezes dolorido. Para aproveitar as aquisições que só o passar dos anos podem dar, é preciso despedir-se do vigor e da beleza natural da juventude e assumir as limitações físicas da velhice. Para muitos, tanto homens como mulheres, isso é desesperador. Todavia, as modificações artificiais do corpo não só mascaram o sofrimento do processo de envelhecimento como também podem alimentar a ilusão de que os anos ficaram estagnados.
Só a beleza interior é capaz de vencer a corrida contra o tempo. O apóstolo Pedro tinha consciência disto. Quando escreveu uma carta a um grupo de cristãos, destinou parte dela às mulheres, alertando-as de que o foco da beleza deveria “ser a interior, que não perece, beleza demonstrada num espírito dócil e tranqüilo, que é de grande valor para Deus” (1 Pedro 3.3-4). Podemos fazer uso de todos os recursos possíveis para a preservação e beleza do corpo, mas não podemos esquecer que as leis da vida são mais fortes; os anos passam, por mais que disfarcemos seus efeitos. As plásticas podem eliminar as rugas, mas não diminuem a idade.
Salomão, um rei que ficou conhecido pela sua sabedoria, viveu regiamente e relacionou-se com muitas mulheres. Tanta experiência fê-lo concluir que a beleza era enganosa e a formosura, passageira. “Mas a mulher que teme ao Senhor será elogiada”, ressalvou (Provérbios 31.30). O temor ao Senhor só será legitimado se resultar numa maturidade perceptível nos relacionamentos pessoais. O crescimento espiritual genuíno manifesta uma beleza que será reconhecida por aqueles que vivem à nossa volta. Mas cultivar a beleza interna implica conhecer as próprias sombras e ter disposição para suportar muitas vezes a vergonha e a dor de descobrir que não somos aquilo que aparentamos.
É preciso encarar a realidade de que construímos muitos disfarces no anseio de sermos aceitos e amados. Na busca da beleza interior, precisamos desconstruir nossas fachadas, uma a uma – e nesses desmanches, perdemos a falsa identidade e experimentamos a sensação desesperadora da perda de nós mesmos. Viver com a imagem verdadeira que se inicia ainda é estranho e desconfortável para muitos de nós; mas adaptar-se a ela é um caminhar lento e por muitas vezes solitário, porque os amigos, conhecidos e até parentes que gostavam só da aparência que os agradava também se vão. Sim, este processo é um tipo de cirurgia, e sem anestesia. Porém, os resultados são muito mais que apenas estéticos – eles são consolidados em nosso ser e ficam cada vez mais belos, atraindo para junto de nós aqueles que apreciam e se deleitam com a beleza de caráter, que é perene e sobrepuja a mera aparência.
Esther Carrenho
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