Só as palavras me salvam. Descobri que as palavras me curam. Aprecio prazeres como quem quer continuar vivo. De todos que encontro, poucos me atravessam esteticamente como os que falam, escrevem, traduzem, deliram, pensam, significam ou simplesmente salvam-me de mim: êxtase. Quando tenho fome, desejo quitutes. Cansado, sonho acordado com a cama. Carente, busco em brasa o corpo amante da esposa. Mas doente, desespero por palavras. Devoro Pessoa, Quintana, Adélia, Drummond, Lya Luft, Mia Couto, Rubem Alves, Chico, Lenine, Kierkegaard, Nietzche. Gente que proseia a vida. Gente feita e fazedora de palavras, essas que me arrancam de mim, doente e triste. E se me devolvem a mim, quando me devolvem a mim, livram-me de mim.
Redescobri o evangelho, a boa-notícia bíblica se faz revelando de Deus que é palavra feita gente, verbo encarnado. A novidade luminosa cura o povo que andava em trevas nas réstias das palavras. Jesus é a vida apalavrada, redimida, curada. Verbo generoso. Palavra que sente, abraça, chora, come e bebe, vive e morre, ressuscita e arrebata.
Deus não é gente sem o verbo, humanizar é palavrear. Homem não é gente sem palavras, divina é a palavra, a mais humana delas. Nas palavras encontro Deus, sem que dele mesmo fale. Nelas, acho-me, sem que a mim mesmo explique. Anônimos, livres e voláteis, eu e Deus, tudo e todos. Amantes. Amigos. Amores. Redenção.
Há as palavras que broxam, mordaças do eros.
As que violam, bofetes da ignorância.
Espanto estético, as que enfeiam, tribufus,
falatórios descuidados, mal amadas.
Mas há as palavras falantes,
do sombrio e luminoso,
do incerto e verdadeiro,
inquietas e sossegadas,
da vida, de nós, do mundo de mim mesmo, misterioso e escorregadio, lugar para o divino, para as palavras.
Acordo calado, olhar lúgubre, suspiro de quem carrega a vida como morte. Peso que esmaece as pernas e os braços, quase encerra as pálpebras. Olhos ardidos de angústia. Fico assim bem mais que gostaria de admitir. Até que as palavras me encontram, distraído de tristeza, sussurram por minha atenção. Se olho, ouço. Aos ouvidos, imagino. Se escrevo, como que paridas por mim no papel, na tela, nos nervos. Posso senti-las bombeadas do coração, esparsadas sob a pele, a alma latejando. Aspergido por palavras, já sou outro. Melhor e o mesmo.
Elienai Cabral Junior
Redescobri o evangelho, a boa-notícia bíblica se faz revelando de Deus que é palavra feita gente, verbo encarnado. A novidade luminosa cura o povo que andava em trevas nas réstias das palavras. Jesus é a vida apalavrada, redimida, curada. Verbo generoso. Palavra que sente, abraça, chora, come e bebe, vive e morre, ressuscita e arrebata.
Deus não é gente sem o verbo, humanizar é palavrear. Homem não é gente sem palavras, divina é a palavra, a mais humana delas. Nas palavras encontro Deus, sem que dele mesmo fale. Nelas, acho-me, sem que a mim mesmo explique. Anônimos, livres e voláteis, eu e Deus, tudo e todos. Amantes. Amigos. Amores. Redenção.
Há as palavras que broxam, mordaças do eros.
As que violam, bofetes da ignorância.
Espanto estético, as que enfeiam, tribufus,
falatórios descuidados, mal amadas.
Mas há as palavras falantes,
do sombrio e luminoso,
do incerto e verdadeiro,
inquietas e sossegadas,
da vida, de nós, do mundo de mim mesmo, misterioso e escorregadio, lugar para o divino, para as palavras.
Acordo calado, olhar lúgubre, suspiro de quem carrega a vida como morte. Peso que esmaece as pernas e os braços, quase encerra as pálpebras. Olhos ardidos de angústia. Fico assim bem mais que gostaria de admitir. Até que as palavras me encontram, distraído de tristeza, sussurram por minha atenção. Se olho, ouço. Aos ouvidos, imagino. Se escrevo, como que paridas por mim no papel, na tela, nos nervos. Posso senti-las bombeadas do coração, esparsadas sob a pele, a alma latejando. Aspergido por palavras, já sou outro. Melhor e o mesmo.
Elienai Cabral Junior
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