09 maio, 2008

Aprendendo a contar nossos dias

Há alguns dias, estive no aniversário de um grande amigo, e ponderei sobre a sábia e enigmática frase de Moisés: "Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio." (Sl 90.12). Parece que esse conselho, do grande libertador, sempre nos vem à mente nessas ocasiões. Porém, apesar da beleza da fala do homem de Deus, permanece o desafio, do tipo "decifra-me ou o devorarei": O que significa contar os dias da maneira proposta?

Não sei se alguém tem a resposta, mas, eu gostaria de propor uma.

Jesus Cristo, certa feita disse:- "E eu vos recomendo: das riquezas de origem iníqua fazei amigos." (Lc 16.9). Na ocasião, ele estava respondendo ao ataque de alguns fariseus, que estranhavam o fato de Jesus estar recebendo publicanos e pecadores. Por uma questão de justiça, para com os fariseus, é preciso que se diga que, em princípio, eles tinham razão: publicanos e pecadores não eram simples almas perdidas, eram membros do povo de Israel que traíram ao seu Deus e ao seu povo, se os romanos não tivessem privado os judeus de aplicarem a justiça, tais pessoas teriam sido apedrejadas. Para dar essa resposta, o Senhor lançou mão de quatro parábolas: a ovelha perdida; a dracma perdida; o filho perdido; o administrador infiel.

Na primeira, fala de um pastor que abandona, no campo, 99 ovelhas e vai atrás da que se perdeu. Uma loucura! Deixar seu aprisco à deriva de ladrões e animais selváticos e, mais, quando volta, vai festejar o achado. E as demais ovelhas? Uma loucura! Com essa parábola, Jesus parece confirmar que ao receber publicanos e pecadores estava, aparentemente, fazendo uma loucura, mas, ele viera para isso mesmo, cometer uma loucura pela salvação dos homens. Na segunda parábola, Jesus explica o porquê da disposição à loucura, o valor do homem: embora para os fariseus o publicano e o pecador valor nenhum tinham, Jesus os via de modo diferente, e, como a senhora que, perdendo uma dracma, cerca de R$ 0,30, desarruma tudo concedendo a moeda um valor que de fato não possuía, assim, também, para Jesus o ser humano mais pecador é tão valioso que vale a pena desarrumar tudo para achar um, como faz a mulher que perdeu a dracma. Na terceira parábola, o Senhor, num primeiro momento, concorda com os fariseus, os publicanos e os pecadores são os filhos que, como o filho pródigo, por vontade própria, se apartaram do Pai amoroso, porém, os fariseus, representados pelo irmão mais velho, não conseguiram sintonizar-se com o coração do Pai, confiados em seus pretensos méritos próprios, acabaram por desenvolver um senso de justiça própria, que os tornou incompassivos e judiciosos. Por fim, por meio da parábola do administrador infiel, Jesus acusa os fariseus de estarem mal administrando fortuna alheia, tanto a vida quanto o conhecimento lhes foi legado e, este saber deveria ter-lhes desenvolvido o senso da impossibilidade, ou seja, a consciência de que, jamais, por si mesmos, conseguiriam viver segundo tão elevado padrão e que, o melhor que poderiam fazer era, a partir do que sabiam, diminuir a distância entre os pecadores e Deus, pela compreensão, pelo amor, pela bondade, pelo ensino, fazendo amigos a partir de riqueza alheia, pois, tanto a vida como a revelação pertencem a Deus. "Para que, quando aquelas (a vida e a sabedoria) vos faltarem, esses amigos vos recebam nos tabernáculos eternos." (Lc 16.9).

Ao recomendar aos mestres da lei que usassem a vida e o conhecimento para fazer amigos para a eternidade, o Senhor respondeu nossa pergunta:- Como viver de modo a alcançar coração sábio? E a resposta de Jesus é:- Vivendo para fazer amigos,pessoas de quem nos aproximamos para aproximá-las de Deus e, para dEle, por elas, sermos aproximados.

Por que?

Porque como disse o psicólogo suiço Hans Burky:- "O Reino de Deus é um reino de amigos." Porque amigo é esteio nas horas difíceis: "Em todo tempo ama o amigo, e na angústia se faz o irmão." (Pv 17.17). Porque amigo é fonte de amadurecimento: "Como o ferro com o ferro se afia, assim, o homem, ao seu amigo." (Pv 27.17). Porque amigos são para sempre. Embora, na ressurreição, nem nos casaremos, nem nos daremos em casamento; sendo, porém, como os anjos no céu (Mt 22.30), teremos amigos: aqueles amigos que nos receberão nos tabernáculos eternos! (Lc 16.9).

Ariovaldo Ramos

Nenhum comentário: