08 abril, 2008

Utopia nossas de cada dia

Depois da minha recaída otimista no último post, enquanto aguardo Deus vir e me deixar com Cara de Tacho, retomarei minha caminhada pessimista, pois é onde me situo melhor, salvo engano.

Devidamente motorizado por um idiota que vi falando bobagens na TV, fiquei pensando em utopias. Atlântida, Oceania, Comunismo, Socialismo, Paraíso, Igreja Ideal, Político Honesto, livre pensar, democracia, Corinthians campeão do mundo e vai por aí. Incrível minha inocência, apesar de tudo que já vi e vivi, continuo sendo um tolo sonhador.

Quanto tempo e fosfato perdido com essas utopias. Quando era menino, tínhamos uma casa na Praia Grande, perto da cidade Ocean. Um cara chamado Andraus, que de bobo não tinha nada, criou um arremedo da Oceania, na visão dele era um empreendimento imobiliário capaz de lhe render uma boa grana, como rendeu de fato e, se não me engano, está lá, até hoje. Bem na frente da cidade, cravou um Netuno gigante, olhando para o mar. Muitas vezes sentei ali e fiquei admirando a estátua. Confesso que às vezes ela ganhava vida e eu levava uns papos com o Net. Sempre fui fascinado pelo mar.

Certa vez, fui ao borracheiro para o concerto de um pneu furado. O borracheiro começou com um papo estranho. Disse que eu era filho de Xango, o deus candomblé dos intelectuais. Como não podia sair dali e não queria ser descortês com a figura, ouvi tudo aquilo impassível, com ironias e sorrisos amarelos. Entre outras coisas ele me disse: o senhor precisa do mar e da areia da praia como do ar. Confesso que isso me impressionou, pois eu acredito nisso desde criancinha. Na hora de ir embora, o borracheiro se aproximou, estendi uma gorjeta para ele, mas o mulato recusou dizendo: quando for à praia, traga uma estrela do mar para mim, não compre, apanhe na beira da água do mar.

Acho que fica fácil imaginar porque sou fã do Amir Klink e leitor das utopias e devaneios que ele escreve e pratica. Imagine dar a volta no pólo sul em um barquinho a vela e voltar vivo para escrever a façanha. Se desse para resetar essa vida e começar ela outra vez, viveria como o Amir, o Marco Polo, Cristovão Colombo e os navegadores navegando os sete mares, conhecendo todos os portos e descobrindo o que é que as baianas têm, com todo respeito, claro. Minha utopia era viver e manter uma Pousada no litoral norte de São Paulo, ou sul do Rio de Janeiro, vindo aos centros urbanos para editar um livro novo, fazer umas palestras exóticas sobre um Deus ateu, somente e voltar rapidinho para junto do mar.

Mas a minha maior utopia é uma Igreja cristã onde as pessoas não fossem hipócritas, eu incluso, os pastores não fossem ladrões e adúlteros e todos vivessem para propagar o amor de Deus, como Jesus Cristo ensinou. Uma igreja que fosse capaz de abraçar um jeca tatu como eu fortemente e perdoar tudo e todos, até o Lula e seus asseclas, inclusive o Diogo Mainard, desde que eles solicitassem. Sabe, eu fui feliz quando: ir à igreja era sentar no chão, cantar e ouvir testemunhos de conversão e adoração, como nos tempos do Tio Cássio, apesar dele. Queria mais tios e menos pastores doutorados e mestrados que deixassem os jovens serem jovens, as crianças, crianças, os velhos, velhos e assim por diante. Algum lugar onde só uma coisa fosse proibido: dinheiro.

Não sou um imoral e muito menos tenho tendências imorais. Acredito que a moral se estabelece fácil onde as pessoas se amam com o amor ágape e estão dispostas a dar ao próximo tudo que desejam para si mesmas.

Isso não foi nada, apenas um pensamento, um cometa saído de minhas catacumbas interiores. Minha utopia é muito maior e mais fantasiosa do que isso. E a sua?

Lou Mello

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