31 março, 2008

Visão da verdade

O rústico, porque é ignorante, vê que a lua é maior que as estrelas; mas o filósofo, porque é sábio, e mede as quantidades pelas distâncias, vê que as estrelas são maiores que a lua.

O rústico, porque é ignorante, vê que o céu é azul; mas o filósofo, porque é sábio, e distingue o verdadeiro do aparente, vê que aquilo que parece céu azul, nem é azul nem é céu.

O rústico, porque é ignorante, vê muita variedade de cores no que ele chama de Arco da Velha; mas o filósofo, porque é sábio e conhece que até a luz engana (quando se dobra) vê que ali não há cores, senão enganos corados e ilusões da vista.

E se a ignorância erra tanto, olhando para o céu, que será se olhar para a terra? ... E os erros dos homens não provêm apenas da ignorância, mas principalmente, da paixão. A paixão é a que erra, a paixão a que os engana, a paixão a que lhes perturba e troca as espécies para que vejam umas coisas por outras.

Os olhos vêem pelo coração, e assim como quem vê por vidros de diversas cores, todas as coisas lhe parecem daquela cor, assim as vistas se tingem dos mesmos humores, de que estão, bem ou mal, afetos os corações.

Pe. Antonio Vieira, Sermão pregado em 1669.

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