27 fevereiro, 2008

A praga dos gafanhotos

"A igreja Ide por Todo o Mundo está ampliando sua equipe de missionários. É essencial que os interessados tenham disponibilidade imediata para mudar de cidade. Despesas de mudança e o aluguel da residência no primeiro ano serão cobertos. Os candidatos não precisam ser cristãos, pois receberão treinamento adequado para desempenhar suas atividades ministeriais. Interessados devem enviar currículo para a Caixa Postal 666, Cep 10.171-171."

O mundo evangélico anda cheio de bizarrices mas o anúncio acima felizmente é fictício. Ao menos por enquanto. Contudo, há outros fatos estranhos no meio do rebanho que são vistos com normalidade.

Após visitar centenas de livrarias cristãs em todo o país, optei por iniciar os treinamentos pedindo que as pessoas citassem uma frase de um livro que leram recentemente. O constrangimento se repetia em todos os lugares. Para diminuir o desconforto, passei a dar a opção de citar um versículo bíblico caso a pessoa não “se lembrasse” do trecho de um livro. Nunca ouvi tantas vezes na minha vida “O Senhor é meu pastor” e “Tudo posso naquele que me fortalece”.

O empreendedor escolhe com cuidado o ponto que vai alugar para abrir a loja. Verifica se há transporte público na região, firma convênio com estacionamentos próximos e visita os pastores das comunidades próximas. Seleciona os produtos com cuidado, afinal está investindo uma parcela significativa do que conseguiu amealhar após vários anos de trabalho. Na hora de escolher os instrumentos de multiplicação dos recursos, simplesmente pede indicações aos amigos e coloca em risco todo o projeto que planejou.

Da mesma forma que a tarefa de pregar o evangelho não pode ser confiada a incrédulos, comercializar livros não pode ser incumbência de quem não gosta de ler. Não há treinamento que seja capaz de suprir a falta desse hábito essencial. Orar diariamente com a equipe pedindo que Deus não considere o despreparo de todos e prospere os negócios é tão eficaz quanto a prece de estudantes que não estudaram o ano todo e recorrem aos céus antes dos exames.

Nos últimos anos, os gafanhotos descritos pelo profeta Joel ganharam notoriedade. Mesmo com embasamento teológico questionável, os insetos passaram a simbolizar tudo o que pode destruir a vida financeira. Se usarmos essa figura recorrente, é possível afirmar que as livrarias cristãs são um ambiente propício para a reprodução deles. Da mesma forma que apenas dez gafanhotos podem destruir uma mangueira em pouco tempo, alguns funcionários recrutados com displicência e que não recebem treinamento são capazes de destruir o patrimônio conquistado com muito suor.

Segundo estatísticas, o governo brasileiro gasta anualmente cerca de um milhão de dólares em inseticidas químicos para evitar uma praga de gafanhotos. Dentro das livrarias o combate sai bem mais em conta. Seleção criteriosa da equipe, treinamento constante e facilidade de acesso aos livros já proporcionará condições adequadas para ampliar o faturamento da loja.
Funcionários e consumidores serão beneficiados com a expansão dos negócios e, no fim das contas, os bons resultados serão a mais perfeita tradução da bênção de Deus. “Prestem atenção! Hoje estou pondo diante de vocês a bênção e a maldição” (Deuteronômio 11.26 – NVI).

Sérgio Pavarini

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