-Papai…!
- O que foi, filha?
- Estou com medo…
- Medo de quê?
- De monstros!
- Monstros?
É… Eles estão aqui!- Filhinha… Deixa eu te dizer uma coisa: onde existe amor não há lugar para monstros. Os monstros têm medo do amor. O amor é maior que os monstros. O amor é maior que tudo. E você é muito amada, minha flor.
- Quer dizer que onde não tem amor os monstros vêm?
- É, querida, você disse uma grande verdade… Onde não há amor nossos monstros, nossas feras, nossos demônios aparecem, entram e fazem moradas.
A essa altura do meu discurso metafísico sobre as implicações do conflito apocalíptico entre os monstros que habitam a imaginação fértil de minha filha recém-adotada e o amor, meus olhos, encarando-a com toda a ternura do mundo se encheram de lágrimas, enquanto os seus, verdes e claros como o mar de Natal, sorriram pra mim, ante a constatação de que o amor estava presente ali entre nós, que os monstros haviam se dissipado todos como fumaça, e que era hora de dormir na mais profunda paz de criança.
Nosso breve tratado filosófico-teológico se encerrou num abraço apertado (de ambos), molhado (por minhas lágrimas) e cheio desse mesmo amor de que falamos.
…estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do AMOR…
Carta de São Paulo aos Romanos, capítulo XVIII
Jorge Camargo
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