Descubro tardiamente que minha alma é lenta. Meus pensamentos chegam sempre primeiro e organizam a cena, parece que dá para continuar sem muitos prejuízos. Meus sentimentos, também. No meio da confusão, sinto-me sempre forte, lúcido. Minha tristeza e desilusões são tímidas sempre. Depois de tudo fico achando que sou melhor do que imaginava. Que resisti incólume.
Mas então chega a alma. Bem depois de tudo. Com a cara indolente de quem deixa para depois. Sua lentidão me irrita. Dá vontade de sacudi-la e dizer: por que você nunca vem junto comigo? No entanto, lenta e inclemente, traz todas as minhas verdades. Toda a minha estupidez. Ela parece ter a missão de não deixar que minha história durma inerte.
Depois de tudo, vem continuar as conversas. Do dia anterior, dos enfrentamentos adiados. Das agressões arquivadas como desimportantes. Das decisões que, diferentes, a tudo poderiam sempre mudar. Das evidências apontadas, mas desconsideradas. Dos medos silenciados por desejos mais fortes.
Habilmente, minha alma, ressoa o barulho de meses atrás, das ofensas ou apenas insinuações. Estas, sempre mais devastadoras. Quem insinua encapsula nas reticências o pior veneno e por isso destrói por mais tempo e com mais dor. A alma se encarrega de tirar das cápsulas da memória antiga o veneno que até então não havia me feito tão mal. Vem exigir de mim que diga o que não disse. Não admite as poucas e atrapalhadas falas, implacável, pune-me. Vem lembrar-me os desencantos. Vem arder meu peito com tudo o que já era. Vem sussurrar minhas impotências. Vem dizer-me que sou menos.
Chega sempre depois e muito deprimida. Vem chorar quando tudo já pede para agir. Vem me mandar parar quando já não posso mais ficar. Vem cobrar de mim que deixe de crer naquilo em que não creio mais. Vem gorda e pesada. Doem o pescoço e as pernas. Doem os ossos e os olhos. Doem as lágrimas nas pálpebras. Dói viver.
Alguém pode xingá-la acusando-a de ressentida. Injustiça. Ela é lenta porque nossa pressa é uma mentira. Minha lenta alma vem dizer que não foram inertes as palavras que ouvi. Porque tudo o que é de verdade sofre. É ela que me impõe uma sentença, viver transforma. A minha alma é a minha condenação a jamais viver à toa.
Se não doesse tanto, faria um elogio a minha alma: você é a mais linda verdade que habita em mim, graças a você minha vida é grave.
Se a dor que me faz sentir não fosse tão real e se, neste exato momento, não estivesse chorando, diria com uma ponta de esperança: não sei mais quem sou e quais os dias que me esperam. Sei, tão somente, que sou outro.
Mas então chega a alma. Bem depois de tudo. Com a cara indolente de quem deixa para depois. Sua lentidão me irrita. Dá vontade de sacudi-la e dizer: por que você nunca vem junto comigo? No entanto, lenta e inclemente, traz todas as minhas verdades. Toda a minha estupidez. Ela parece ter a missão de não deixar que minha história durma inerte.
Depois de tudo, vem continuar as conversas. Do dia anterior, dos enfrentamentos adiados. Das agressões arquivadas como desimportantes. Das decisões que, diferentes, a tudo poderiam sempre mudar. Das evidências apontadas, mas desconsideradas. Dos medos silenciados por desejos mais fortes.
Habilmente, minha alma, ressoa o barulho de meses atrás, das ofensas ou apenas insinuações. Estas, sempre mais devastadoras. Quem insinua encapsula nas reticências o pior veneno e por isso destrói por mais tempo e com mais dor. A alma se encarrega de tirar das cápsulas da memória antiga o veneno que até então não havia me feito tão mal. Vem exigir de mim que diga o que não disse. Não admite as poucas e atrapalhadas falas, implacável, pune-me. Vem lembrar-me os desencantos. Vem arder meu peito com tudo o que já era. Vem sussurrar minhas impotências. Vem dizer-me que sou menos.
Chega sempre depois e muito deprimida. Vem chorar quando tudo já pede para agir. Vem me mandar parar quando já não posso mais ficar. Vem cobrar de mim que deixe de crer naquilo em que não creio mais. Vem gorda e pesada. Doem o pescoço e as pernas. Doem os ossos e os olhos. Doem as lágrimas nas pálpebras. Dói viver.
Alguém pode xingá-la acusando-a de ressentida. Injustiça. Ela é lenta porque nossa pressa é uma mentira. Minha lenta alma vem dizer que não foram inertes as palavras que ouvi. Porque tudo o que é de verdade sofre. É ela que me impõe uma sentença, viver transforma. A minha alma é a minha condenação a jamais viver à toa.
Se não doesse tanto, faria um elogio a minha alma: você é a mais linda verdade que habita em mim, graças a você minha vida é grave.
Se a dor que me faz sentir não fosse tão real e se, neste exato momento, não estivesse chorando, diria com uma ponta de esperança: não sei mais quem sou e quais os dias que me esperam. Sei, tão somente, que sou outro.
Elienai Cabral Junior
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