Tendemos ao gueto. Como cristãos, e especialmente evangélicos, temos esta estranha tendência de nos afastarmos do mundo, de ignorá-lo, de repudiá-lo sempre. Digo “estranha” porque nada poderia ser mais antibíblico ou anticristão. "Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa”, já dizia Jesus no seu tempo (Mt 5.14-15). Além disso, o famoso “Ama a teu próximo com a ti mesmo”, outro dos mandamentos do Filho de Deus, exige que conheçamos o próximo. E para conhecer é necessário conviver. O livro Deus e eu (Casa da Palavra, 168 pp., R$ 29,90) é uma grande oportunidade para deixarmos nosso mundinho gospel por alguns momentos e tentarmos conhecer um pouco mais intimamente o mundão lá fora. De certa forma, foi justamente isso que o autor da obra, o cineasta italiano e católico Antonio Monda, fez ao resolver entrevistar várias personalidades e pedir-lhes que dissessem com honestidade se acreditavam na existência de Deus. As respostas colhidas são, no mínimo, instigantes. A atriz Jane Fonda afirma que “Deus foi o primeiro feminista”. Martin Scorsese lembra que sua relação com a religião é determinante. E a escritora Toni Morrison vê Deus com tamanha grandeza que “até a Bíblia, esse livro maravilhoso escrito por extraordinários visionários, é pequena e redutora em relação à grandeza de Deus”.
Para sermos o sal e a luz do mundo, precisamos estar no mundo, conhecê-lo, ainda que não compartilhemos seus valores. É a velha e esquecida idéia de refutar o pecado mas amar os pecadores. Neste sentido, o livro de Monda ganha uma dimensão maior para nós, cristãos, e funciona como um olho mágico que revela a intimidade espiritual de crédulos e incrédulos espalhados pelo mundo.
Carlos Carrenho
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