19 outubro, 2007

A liberdade religiosa, realidade ou ficção?

Quando trabalhei na Portas Abertas fui abduzido pelo propósito máximo da missão: lutar pela liberdade religiosa. Víamos o mapa-mundi nessa perspectiva. Naquela época, ainda em tempos da Cortina de Ferro, a maior parte do mapa tingia-se da cor escura (regiões fechadas à liberdade religiosa) em mais de dois terços do planeta, demonstrando a escalada da ruptura do ser humano em relação às suas crenças religiosas. A missão deveria desempenhar o papel de defender esses direitos humanos ameaçados em todo o mundo e aqui no Brasil, também, mas com os paspalhos que estão lá, hoje em dia, isso jamais acontecerá.
Com a queda do muro de Berlim houve um retrocesso e um terço dos viventes readquiriu o direito de ir à igreja que desejasse e comungar a fé que melhor lhe aprouvesse, pelo menos no leste europeu.
Os ataques norte-americanos à religião muçulmana praticada em maior escala no oriente médio, provocou um endurecimento dos adeptos de Maomé e as conseqüências conhecidas de todos. Hoje, o Iraque, antes um país que vivia sob uma ditadura política, é palco de disputas econômicas e religiosas, além da política.
No Brasil, a questão tem suas características próprias. Há uma grande animosidade entre a igreja católica e a protestante. Só não é pior porque a igreja protestante daqui é desorganizada e sem grande representatividade. Os fatos mais significativos e importantes estão relacionados à liberdade de culto. Os atores envolvidos escondem interesses econômicos atrás de suas escaramuças. Via de regra, utilizam a justiça e os meios de comunicação para fazer o trabalho sujo, quando não são eles próprios os envolvidos. As acusações, quase sempre, apontam para questões envolvendo doações em dinheiro, o fim dado a elas e as famosas falsidade ideológica, estelionato e formação de quadrilha.
Minha intenção não passa nem perto de tentar inocentar quem quer que seja. Não sou juiz e não tenho tal pretensão. O que enxergo nessas escaramuças é a ameaça à uma de nossas liberdades individuais garantidas pela constituição.
Quem está capacitado a julgar se a ideologia desta ou daquela igreja está certa ou errada? Com base em que seriam estabelecidos os parâmetros para condenar ou absolver essa ou aquela seita? Na Bíblia? No Alcoorão? Na Torá? Nos Vedas? Que autoridades poderiam fazê-lo?
Desde os tempos de Adão e seus filhos indisciplinados a doação já era uma prática comum e aceita sobre a face da terra. Se não quisermos olhar para os milhares de anos antes de Cristo, basta dar uma boa olhada para o que aconteceu nos dois mil anos passados depois dele. Quantos milhares em dinheiro, ouro, terras, mercadorias, haras, porcos, galinhas e ovos foram doados a todo tipo de igreja e com destaque às igrejas católicas, protestantes e muçulmanas?
Onde está todo esse dinheiro e valores? Bem, todo mundo conhece o Vaticano e sua opulência. Não deveria o nosso Ministério Público investigar como foi que a igreja católica fez tudo aquilo? Quem sabe, preventivamente, não deveriam solicitar a extradição do Papa? Aliás, perderam uma boa oportunidade de prendê-lo e interrogá-lo quando esteve aqui, pouco tempo atrás.
Mas se não quiserem ir tão longe, o MP poderia começar sua investigação aqui mesmo, apurando como foi construído aquele mausoléu em Aparecida do Norte e se aquela estátua tem mesmo algo espiritual ou seria apenas um instrumento de culto criado para inspirar o povo a fazer doações. No lado protestante, também haveria muito a ser investigado. Acumulo de propriedades, opulência dos líderes e vai por aí.
A grande verdade é que nada disso é necessário à luz da nossa constituição que, acertadamente, garante a todos nós a liberdade de acreditar no deus de nossa preferência, seja abstrato ou concreto. Doações não são e jamais serão crime. Esse é outro direito garantido pela constituição, ou não temos o direito de usar nosso dinheiro como bem entender. Será que será preciso outro filme do Frank Capra com o Gary Cooper jogando dinheiro do Empire State Building para lembrarmos disso?
As Igrejas que mais crescem no mundo são um sério fenômeno sociológico a ser estudado. Por que razão as pessoas as buscam e crêem no que elas pregam? Como a Igreja Católica conseguiu convencer tantas pessoas ao longo de dois milênios com seus pressupostos dúbios? E as outras?
O que está em jogo, como nos conta a história, é que as liberdades individuais começaram a ser diminuídas pela perda da liberdade de culto, na maioria das vezes em que ocorreu perda total desses direitos. Os grandes impérios perseguiram os religiosos, as grandes ditaduras (de esquerda e direita) também. Estou esperando o Chaves (Venezuela) começar a bater nessa tecla, inclusive, já o vi reclamando de um clérigo que ousou contestá-lo. Depois dele será a vez do Morales e, a seguir, do Lula, claro.
Podem desacreditar, discordar e não abraçar essas religiões. Mas as pessoas tem o direito de freqüentá-las e, a seu juízo, doar-lhes o que quiserem. Pior é o cara ir à justiça pedir de volta o que doou livremente e ter sua causa acatada. Como eu disse no post anterior, e Jesus há dois mil anos, os ratos e as baratas estão e estarão aí, sempre, para fazer o trabalho sujo. Seja com doutrinas da prosperidade, da santa achada no leito do rio, com incenso, velas, cursos em DVDs, candelabros ou tapetinhos, eles são o tal mal necessário, pois as pessoas desprezadas, sofridas, inseguras, atônitas e abandonadas não tem para onde ir, nesse mundo de predadores incontáveis.

"Querem acabar com essas religiões sem liquidar com a liberdade? Comecem a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo com a si mesmo. Não vise lucro na pessoa a seu lado. Estenda a mão a todos e ofereça ajuda a quem precisa, antes que peçam. Abrace mais, sorria mais e deixe cada um viver como melhor lhe convier".

Outra opção é encontrar uma boa Gruta, onde ninguém lhe pregue nada e, muito menos, lhe peça nada. Não é o caso aqui, onde vivemos pedindo algo. Claro, afinal ninguém é de ferro.

Lou Mello

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