28 outubro, 2007

Embriaguez


Estou inebriado de beleza, esmagado pelo esplendor.


Sem mais nem menos, senti-me batizado por uma Presença. Tudo me encantou, tudo me seduziu. Passei a gostar de pequenos gestos, relembrar momentos fugidios que perduraram em minha retina e me deram enorme alegria. Ressuscitaram olhares, toques e sílabas soltas que marcaram minha alma.

O Espírito abriu um estojo de jóias e ressuscitou tudo o que já me fez sorrir. Convenci-me de que a sombra de Deus é formosa como a asa de uma graúna, gentil como o sorriso de uma criança e forte como o olhar do ancião.

O Vento soprou e, de repente, tudo me fascinou. A genialidade poética do Chico Buarque e a doçura do Henry Nouwen se somaram à erudição dos meus professores do mestrado, e fiquei com um impulso de correr, saltar, de satisfação. Meus olhos se encheram de azul, meu coração acolheu o negro e minha pele se cobriu de rubro. Senti-me vivo.

Percebi o abraço divino e tudo me arrebatou, tudo me endoideceu. Vi-me encharcado de eternidade, amarrado pela vastidão sideral, atraído pelo infinito, desejoso pelo devir, e com o olhar fixo no horizonte improvável.

O Espírito veio sobre mim e tive anseio de ficar só numa catedral vazia. Sua presença me levou a trilhas bucólicas, com a sensação de que o divino companheiro que arde corações me acompanhava.

O Espírito me revestiu de amor pela vida. Desfiz os nós da discórdia, quebrei as lógicas do ódio e me inundei de bondade. Ganhei o ímpeto de gritar: seu Reino é justiça, paz e alegria.

Antes de dormir vou acender um monte de velas aromáticas, ler Pessoa e escutar Bach para celebrar o testemunho do Espírito em mim.

Ricardo Gondim

(Dedicado a Rubem Alves)

Nenhum comentário: